21.9.08

I was born to love no one
No one to love me
Only the wind in the long green grass
The frost in a broken tree.

I was made to love magic
All its wonder to know
But you all lost that magic
Many many years ago.

I was born to use my eyes
Dream with the sun and the skies
To float away in a lifelong song
In the mist where melody flies.

I was made to love magic...

I was born to sail away
Into a land of forever
Not to be tied to an old stone grave
In your land of never.

I was made to love magic...

do poeta Nick Drake

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho,
Ninguém passava entre as casas.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive visões naquela madrugada.

Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim
No beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.

Vi uma lesma pregada na existência
Mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.

Vi ainda um azul-perdão
no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.

Olhei uma paisagem velha
A desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.

Por fim enxerguei a
Nuvem de calça.
Representou para mim
Que ela andava na aldeia de
Braços com Maiakovski
- Seu criador.
Fotografei
A nuvem de calça

E
O poeta.
Ninguém-outro poeta
No mundo faria
Uma roupa mais justa
Para cobrir
A sua noiva.

do poeta Manoel de Barros